sexta-feira, 10 de novembro de 2017

10. João aprendeu a arte de ser mágico



Sorrisos de Dom Bosco - p. 21 (do Original)


Frequentando feiras e circos com sua mãe, Joãozinho, tinha muitas vezes observado que o povo costumava extasiar-se diante das proezas de qualquer embusteiro prestidigitador.
Essa descoberta foi para ele uma revelação: apareceu-lhe como um meio fácil de atrair e prender a atenção dos outros. Sem demora, pediu licença à mãe para pôr em prática o seu projeto que consistia em aprender as proezas dos mágicos ilusionistas[1].
Desde então, começou a prestar tanta atenção às mágicas, que chegou a surpreender todos os gestos, a descobrir todas as astúcias e a perceber a destreza necessária para executá-las.
Voltando para casa, repetia todos os jogos que tinha visto e exercitava até conseguir fazê-los perfeitamente.
É fácil imaginar os choques, os tombos, os trambolhões aos quais se sujeitava quando queria imitar os artistas e dançar sobre a corda, dar saltos mortais, e andar de mãos no chão e pernas para o ar. Porém, com constância e com agilidade que possuía, logo o conseguia; tornou-se assim habilíssimo em toda a espécie de jogos, ginástica e mágicas. Depois de suficientemente adestrado, começou a dar espetáculos, de preferência aos domingos.
Ia para um prado e lá amarrava uma corda ao tronco de duas árvores; depois, preparava uma mesinha, arrumava uma cadeira e estendia na relva o tapete destinado a servir para os saltos mortais.
Todos corriam para vê-lo, ansiosos e cheios de curiosidade.
Quando tudo estava pronto e povo reunido na expectativa da grande novidade, ele fazia recitar o terço e cantar um hino de louvor; depois trepado na cadeira, repetia o sermão que ouvira de manhã na Missa, enfeitando-o com fatos e exemplos instrutivos. Se porventura, algum dos presentes desse mostras de descontentamento, João empertigado na cadeira como um rei no seu trono, forçava o rebelde à obediência, com gestos resolutos. Só depois disso é que dava início ao espetáculo.
Dar saltos mortais, andar de mãos no chão e pernas para o ar, engolir moedas para ir busca-las no nariz de algum espectador, multiplicar bolinhas e ovos, transformar água em vinho, matar um frango e fazê-lo ressuscitar, eram para ele coisas simplicíssimas, de todo dia. Andava pela corda tão bem como por um caminho, pulando e dançando; pendurava-se a ela ora por um pé, ora pelos dois, muitas vezes por ambas as mãos, outras por uma só. Pulava depois novamente para cima da corda, com agilidade surpreendente, acompanhando os exercícios com saídas espirituosas, anedotas e brincadeiras agradabilíssimas.
Todos o admirava extasiados, riam a mais não poder e aplaudiam ao artista com vivas entusiastas.
E ele, esbaforido e sem fôlego, interrompia de vez em quando o espetáculo, ocupando os interessados com um canto de louvor ou com qualquer conselho sábio.
Uma única pessoa fazia-se de desentendido e de sabichão. Era seu irmão Antônio que caçoava com ele, dizendo-lhe:

- Que grande bobo você é! ... por que é que se faz de ridículo diante dos outros?

Mas João suportava sem protestar os escárnios do irmão, pensando no bem que operava, ria das suas troças.
FONTECHIAVARINO, SORRISOS de DOM BOSCO. VI Edição, Ed. Paulinas, São Paulo, 1959, o "sorriso" de hoje encontra-se à páginas 20 - 23

[1] O termo usado no texto original é “charlatão” e “charlatães”. Como hoje a palavra tem um sentido bastante negativo preferimos usar o termo “mágico” e/ou “ilusionista”, pois esses termos aproximam-se de modo mais adequado daquilo que foi para Dom Bosco em seu tempo. O restante do texto aparece como no original.

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