domingo, 21 de setembro de 2008

DEVORADOR DE HOMENS

Caros leitores, a pouco mais de vinte dias aconteceu um confronto entre a polícia e cortadores de cana no interior Paulista. Poderíamos percebê-lo como apenas mais um conflito entre tantos outros vistos todos os dias nos tele-jornais, não fossem alguns detalhes que surgem em meio ao nevoeiro que vela os meandros desse conflito.

De um lado os grandes usineiros apoiados pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Pontal, que teria a responsabilidade de defender os interesses dos trabalhadores. De outro, temos alguns poucos trabalhadores que se insurgiram contra a espoliação de sua força de trabalho e até mesmo do próprio “ser”, apoiados pela Feraesp (Federação dos Empregados Rurais de São Paulo).

O que esses poucos trabalhadores pediam era um reajuste de 10% no piso salarial e aumento no valor pago pelo metro de cana cortada, para R$0,20. Parece muito a primeira vista(!?!), mas ao contrário é bem pouco comparando-se ao valor de R$0,08 por metro de cana cortada e a um aumento que daria direito a R$500,00 de salário! Isso quando não se recebe por tonelada. Ao longo dos anos percebemos uma silenciosa e cruel realidade escravocrata: em 1980 pagavam-se R$6,53/t em média; em 2007 o valor já estava em apenas R$3,29/t. E isso em tempos de altos lucros para a indústria da cana: açúcar, álcool veicular, biodiesel...

Não bastasse essa exploração cada vez mais absurda, apesar dos poucos avanços conquistados a duras penas, vê-se aumentar o uso da tecnologia no campo. O que de per si não é algo negativo, no entanto causa uma retração enorme do emprego de mão-de-obra. Atualmente metade da safra paulista é mecanizada. Muitos são os pontos positivos, mas muitos são os negativos também. São milhares de pessoas privadas da educação, da saúde, do trabalho digno (se é que as condições atuais nos canaviais são dignas), da alimentação... Massas sobrantes de cerca de 2.700 trabalhadores a cada ponto percentual de avanço da mecanização da colheita. Para onde irão essas pessoas? Como irão sobreviver?

O fato é que o tal confronto acabou com a prisão de três indígenas (!) e não resultou em nada. A maioria dos trabalhadores está com medo de perder o seu sustento mesmo que tenha que se submeter a uma condição desumana de trabalho. Não tardará para que sejam substituídos por máquinas e tenham de se somar a uma multidão de famintos, provavelmente às margens de alguma BR ou em favelas de grandes cidades à mercê não só da “fome”, mas da violência.

Se não podemos barrar o avanço tecnológico, não podemos, todavia, deixar muitos homens e mulheres, brasileiros, nossos irmãos, serem rebaixados a nada por um sistema que consome cada vez mais vidas humanas. A tecnologia deveria melhorar a vida das pessoas e não o contrário.

É triste percebermos os sindicatos continuam cobrando esses trabalhadores para defender os interesses de quem os explora. Perguntamo-nos: “para que serve um sindicado então?”. Parece que estamos fechando os olhos e os ouvidos para a miséria que bate e grita à nossa porta! Talvez seja porque ainda não nos reconheçamos como irmãos, filhos de uma mesma pátria! Talvez se prefira refrão “deitado eternamente em berço esplendido” a verás que um filho teu não foge a luta”! Pensemos nisso. Principalmente quando formos escolher nossos representantes no próximo dia 05 de outubro!

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