terça-feira, 25 de setembro de 2007

INQUIETUDE DO SER

O Ser Humano está numa constante busca da felicidade. Ainda mais no nosso tempo. Esta busca incessante está intrinsecamente ligada com o desejo que a espécie humana tem de alcançar a plenitude de sua existência. Mas o que é a felicidade senão a paz? Não é a paz, a concretização de uma felicidade ainda maior que a própria felicidade?

Para Aristóteles, a felicidade está em ser virtuoso. E a virtude só é possível mediante a moderação dos impulsos que temos. E é encontrando a justa medida para os seus atos, que o homem encontra a virtude, e assim a felicidade e a paz. Aristóteles afirma que o filósofo, por obrigação, deve ser alguém virtuoso, e por isso moderado; contudo o virtuoso não necessita ser filósofo. Esta paz que é adquirida através da justa medida (virtude), é também um aproximar-se do Sumo Bem. Para Aristóteles, o sumo bem é o motor imóvel, aquele de onde provém a sabedoria, e que é a sabedoria plena, por ser puro pensamento.

Se para o filósofo a sabedoria plena, é a felicidade, também não seria ela a paz em plenitude? E esta sabedoria buscada pelos filósofos, não seria para os demais a felicidade, e por isso a paz? Agostinho, seria um jovem como qualquer outro, não fossem os questionamentos, e a sua paz inquieta na busca da verdade e da felicidade. Mas de que lhe valeu esta busca? Agostinho, percebeu que não há vida feliz a não ser no perfeito conhecimento de Deus, que poderíamos dizer, é o motor imóvel de Aristóteles, a plena sabedoria, da qual só podemos tomar conhecimento de uma parte, pois nunca a alcançaremos em plenitude nesta vida! Esta plenitude vai além de simplesmente viver esta vida dentro de maniqueísmos, ateísmos, reducionismos,..., que não levam a outro lugar a não ser para uma vida infeliz e cheia de preconceitos.

Isto foi o que Agostinho descobriu, mediante a sua retórica, filosofia e teologia, acerca da vida feliz. Muitas vezes esquecemo-nos de que a verdadeira felicidade/ paz, só será plenamente realizada, quando a buscamos verdadeiramente. E além disso, a paz traz consigo um chamado à reflexão sobre o “por que” do nosso “ser-aí”. Qual o tipo de vivência que estamos tendo dentro do meio em que vivemos? Estamos realmente dispostos a uma verdadeira filosofia da vida e da paz? Ou estamos, ainda, “des-ligados” deste ecossistema no qual estamos inseridos, desapercebidos das filosofias que buscam apenas interesses particulares? Quando falo de uma “paz inquieta” em Agostinho, quero falar de uma paz comprometida com o “conhecer-se a si mesmo”. Foi a partir disso que Agostinho começou a sua reflexão, conhecendo-se, descobriu os seus anseios pela paz. A paz inquieta de Agostinho, nos lembra que a verdadeira paz “só se conquista com justiça e direitos iguais”. É a partir dessa inquietude que nos percebemos no mundo, e assim nos sentimos responsáveis por ele, e por aqueles que fazem parte do “nosso mundo”.

A paz implica em um compromisso com o outro. Quem quiser a paz vai ter de passar a vida inteira se doando pelo outro. Como diz Leonardo Boff, é um inclinar-se para uma ecologia integral, na qual todos estamos inseridos, e não somos mais ricos e pobres, não há fronteiras, e sim uma unidade, onde não se perde a identidade, mas onde todos somos parte do todo. É uma nova cosmogênese. Agostinho pode não ter pensado esta e tantas outras questões, mas sem dúvida nos ensinou que a paz se conquista a partir de nós mesmos, pois é da disponibilidade de cada um que nos abrimos para a construção de uma verdadeira paz, na qual encontramos o Sumo Bem, o motor imóvel, a origem, originante, inoriginada,..., Deus. Será que estamos dispostos a isso?

Um comentário:

Alexandre José Krul [ajkrul] disse...

Nenhum ser humano está disposto a enfrentar turbulências psicológicas e muito menos a guerra.
Quem não gosta de ter uma vida feliz e ter paz?
Desde que o homem se entende por homem, e por hora, nesta era do conhecimento em que as informações estão a disposição das pessoas sem nenhuma censura, chegam até nós infinitos bons exemplos, tanto teóricos, quanto práticos.
Atualmente não carecemos de experiência positivas e bons exemplos, mas mesmo assim há pessoas que insistem em seguir exemplos negativos.
Estive lendo ontem um artigo que mais tarde irei comentar no meu blog ( http://homem1enigma.blogspot.com/ ) que falava sobre a falta de moral interior, ou seja, a maioria das pessoas se ocupa tanto com assuntos externos a ela, que esquece de dar atenção a sua moral, a sua formação pessoal.
Esta inquietude do SER parece-me que brota de uma não realização pessoal, que envolve a não vivência dos próprios sentimentos em sintonia os demais sujeitos existentes e próprio ecossistema, que juntos formam "uma ecologia integral", citada pelo meu caro Belotto.
Por hora somos omissos; por momentos não vivemos nossas vontades (baseada no meio termo,ou como popularmente conhecemos: "desconfiômetro").
Portanto me parece propício afirmar que a inquietude do ser está baseada numa vida não realizada, que tantas vezes se deve aos impecilhos (a violência, a omissão de tomarmos partido, e principalmente a falta de auto-conhecimento) que não permitem o SER se abrir ao que verdadeiramente ele é.