quinta-feira, 15 de maio de 2008

A LEI QUE DEVERIA DEFENDER A VIDA QUER MATÁ-LA


Acredito que a emoção é uma das mais importantes faculdades que o ser humano possui, tanto que um dos temas de grande importância da psicologia atual é a chamada inteligência emocional. Contudo, a emoção sem a razão é tola, e a razão sem a emoção é fria. Quando uma suprime a outra, gera-se um fenômeno que pode receber vários nomes, mas que prefiro chamar de ditadura da emoção ou ditadura da razão.
Com o Iluminismo e a Revolução Francesa (séc. XVIII) a razão prometia resolver todos os problemas da humanidade. Porém, esta mesma razão possibilitou a existência de um período trágico à humanidade: a 1ª e a 2ª Guerra Mundiais; produziu a ideologia nazi-fascista que eliminou milhares de vidas humanas, fez experiências com seres humanos, abortou milhares de inocentes, assassinou homens, mulheres e crianças em busca da raça perfeita.
Hoje vemos o inverso. Nossa sociedade é demasiada emotiva. Tudo que envolve os sentimentos das pessoas tornou-se atrativo (basta ligar a TV nas tardes de domingo). Aquilo que emociona e choca, prende a nossa atenção. Deixamos de lado valores humanos universais; e guiados pela emoção não refletimos e agimos impulsivamente.
A revista Isto é (nº1847) afirma que contra “o lobby fundamentalista de setores mais conservadores” aprovou-se “a Lei de Biossegurança” em especial no que tange o estudo de embriões humanos para “combater doenças incuráveis”. Desde quando defender a vida e propor um diálogo mais profundo sobre a matéria em questão passou a ser “lobby fundamentalista”? Mesmo nos países em que já existe a pesquisa com células-tronco (CTs) embrionárias, como Japão e Inglaterra, não houve nenhum avanço significativo, e as pesquisas com camundongos não deram resultados muito animadores. Então como é possível afirmar que será realmente possível “combater doenças incuráveis”?
No Jornal Folha de São Paulo (Pág. A3, 6/03/05) lê-se que “a promessa das células-tronco embrionárias como arma contra diabetes, mal de Parkinson e uma infinidade de doenças ainda precisa ser exaustivamente testada em modelos de laboratório”. Em tese, as CTs embrionárias podem curar muitas doenças. No entanto, pesquisas recentes com CTs embrionárias de animais foram freqüentes o surgimento de um tumor chamado teratoma (“monstruosidade”, em grego latinizado) que em resumo é uma “maçaroca de todos os tipos de tecido, como dente, cabelo e músculos”. Quem preferirá trocar uma paralisia por um tumor? Ou por um câncer?
A revista Isto é (nº1847) ainda diz que os deficientes físicos venceram “os medievais argumentos religiosos que tentavam abafar os avanços da ciência”. Tal afirmativa tem um único objetivo desqualificar os interlocutores. Os cientistas contrários a aprovação foram ignorados pela mídia e pelo Congresso. Porém, a única opinião contrária mostrada pela mídia foi a da Igreja e ainda sim oferecendo pouquíssimo tempo de exposição em comparação ao tempo oferecido a quem era favorável.
Houve um diálogo verdadeiro sobre a questão? Quando se fala de “argumentos medievais” mostra-se claramente uma visão pseudo-racionalista como veremos adiante. Este argumento refere-se a Idade Média como um período de “escuridão” na história da humanidade, o que mostra apenas a existência de pessoas intelectualmente desonestas. Pois foi na Idade Média que surgiram “os embriões das ciências e das técnicas modernas, o esplendor das catedrais góticas e da racionalidade acadêmica, a fundação das universidades e dos sistemas econômico-financeiros ainda vigentes”, como afirma Franco Cardini (Mundo e Missão. Jan/Fev , Ano12, nº89, p. 17).
Quando a razão tornou-se fria e a emoção tornou-se tola nós tivemos a inquisição, o domínio explorador de uma nação sobre outra, etc. Daí que “argumentos medievais” não significam argumentos ruins, pois existe uma sã filosofia de defesa da vida. E é essa filosofia que precisamos renovar. Justificar um erro lembrando, no caso da Igreja, erros cometidos no passado não justifica o cancelamento do diálogo. É necessário recuperar a sã filosofia de defesa da vida humana, ainda que em estado embrionário.
Eduardo Hollanda destacou como “Vitória da Razão” a aprovação da pesquisa com CTs embrionárias. Todavia, não foi isso que se pode observar, pais , mães e portadores de necessidades especiais na desesperada busca pela cura não se deixaram guiar pela razão. Preferiram matar uma vida humana indefesa, ainda que embrionária, para salvar outra. Temos o direito de dispor da vida de outrem desta maneira? Deste modo o que nos impedirá de, no futuro, dispormos de uma vida adulta?
“Vai ser como um, dois, vários transplantes feitos a partir de um doador que não chegou a existir. E eles viverão, se Deus quiser, em meu filho e em milhões de outros doentes no Brasil”, disse Angelita Paes a Isto é. Neste ponto deparamo-nos com um ponto chave: “transplantes feitos a partir de um doador que não chegou a existir”. Na realidade o doador chegará a existir, porém antes mesmo de possuir a plenitude das características humanas esse doador será assassinado. Ele não chegará a existir plenamente porque, ser-lhe-á tirada a vida.
E estamos presenciando outro momento de extrema fragilidade da vida com a tentativa de regularizar o aborto. Quando começa a vida humana? Quando começa a existir um novo ser? Retomamos as questões. Estamos legalizando o genocídio da humanidade. Estamos perdendo a nossa humanidade, é triste ver que chegamos ao momento em que, até no plano legislativo, a vida humana é reduzida a objeto ou a mercadoria!
No Jornal Folha de São Paulo de 06 de Março ainda se pode ler “com tantas chances de que algo dê muito errado no meio do caminho, pode-se imaginar que a demanda por embriões será alta. ‘Acho que vai haver uma corrida por embriões como existe com tudo’” (p. A3). Uma corrida em que o último lugar está reservado para a vida!
Argumentou-se muitas vezes sobre a resistência que houve para o estudo de cadáveres (séc. XVIII-XIX) e que estaria se repetindo. A comparação não merece crédito. Um cadáver está MORTO e o erro foi evidente. O embrião humano está VIVO. Ele é ou não é ser humano? Se for afirmado que é ser humano, o aborto também estaria condenado, porém o passo agora é legalizar o aborto. A lei que deveria defender a vida, quer matá-la!
Foi o fisiologismo dos deputados e senadores que aprovou a lei: “um ato de humanidade” ou um ato eleitoreiro? Ninguém pode dispor da vida humana como uma mercadoria. O que nos diferencia das outras “coisas existentes” é o fato de que somos humanos e não “coisas manipuláveis”. Fomos todos transformados em objeto de nossa própria ignorância. Espero sinceramente que a humanidade encontre o caminho em que razão e emoção (e até mesmo a fé) andem juntas e construam um mundo em que sejamos mais humanos e menos “coisificados”.
(Artigo publicado em 14 de Março de 2005 no sítio www.athila.com.br)

Um comentário:

Zulma Peixinho disse...

A natureza é sábia: “Pesquisa com células embrionárias fracassou” (www.andoc.es/)
Foi declarado pela Dra. Natalia López Moratalla, catedrática de Biologia Molecular e Presidente da Associação Espanhola de Bioética e Ética Médica, que “as células-tronco embrionárias fracassaram; a esperança para os enfermos está nas células adultas”. Durante a conferência que foi organizada pela Associação Nacional para a Defesa do Direito à Objeção de Consciência (ANDOC), na Academia de Medicina de Granada, a pesquisadora afirmou que “hoje a pesquisa derivou decididamente para o emprego das células-tronco 'adultas', que são extraídas do próprio organismo e que já estão dando resultados na cura de doentes”.
Segundo López Moratalla, “existem cerca de 600 protocolos que utilizam células-tronco adultas, e não se apresentou nenhum com células de origem embrionária”. As células adultas “possuem o mesmo potencial de crescimento e de diferenciação das células-tronco embrionárias - células iPS (induced pluripotent stem (iPS) cells) - e substituem muito bem as possibilidades de biotecnologia sonhadas para aquelas”.
“As últimas descobertas sobre as possibilidades terapêuticas das células-tronco adultas põem em suspeita, abertamente, as duas grandes ‘promessas’ propiciadas pela nova lei espanhola de biomedicina: o uso e criação de embriões para pesquisa, e a chamada clonagem terapêutica. Aos graves problemas éticos já conhecidos (a destruição indiscriminada de milhares de embriões
humanos), se unem evidências científicas que questionam cada vez mais sua utilidade terapêutica”, afirmou a pesquisadora.
“As células-tronco embrionárias fracassaram. Pelo peso de sua própria irracionalidade, caiu o uso terapêutico de células provenientes de embriões gerados por fecundação ou de células humanas provenientes da transferência nuclear a óvulos (o que se conhece por clonagem terapêutica)”, reiterou.
Neste sentido, Natalia López Moratalla afirmou que “é uma exigência ética da pesquisa dar uma informação veraz à sociedade e que possa decidir com conhecimento os aspectos da política científica que lhe refere; entre outros que possa incentivar ou frear a dedicação de recursos a um campo promissor, ao mesmo tempo em que se evite criar expectativas irreais diante de determinadas enfermidades, ao menos a curto prazo”.
“A expectativa com a qual foram recebidas as células-tronco, e o fato de que desde o início as células de adulto tiveram que competir com as embrionárias, como alternativas à grande promessa de cura de graves enfermidades, ocasionou que a divulgação dos avanços se visse pressionada por uma certa pressa em que mostrassem sua eficácia. É preciso o esforço por envolver esta pesquisa com a serenidade que toda pesquisa requer”.
É importantíssimo acrescentar as palavras do Dr. Shynia Yamanaka, mencionadas em seu recente artigo de revisão: “Embryonic stem cells are promising donor cell sources for cell transplantation therapy, which may in the future be used to treat various diseases and injuries. However, as in the case for organ transplantation, immune rejection after transplantation is a potential problem with this type of therapy” (‘Pluripotency and nuclear reprogramming’, Philos Trans R Soc Lond B Biol Sci, 363(1500):2079-87, Jun 2008).
Aproveito para endossar as palavras da geneticista Paula Costa: “o comentário sobre a utilização de células-tronco embrionárias ao invés de adultas, com objetivos de obter financiamento, é absurdo” (Folha Online 27/04/2008).