sexta-feira, 6 de junho de 2008

Células-Troncos Embrionárias: esperança ou ilusão?

Diante de algumas matérias exibidas e escritas em alguns meios de comunicação de massa como a TV e a internet, resolvi trazer ao leitor breves artigos sobre algumas questões éticas e morais envolvendo as pesquisas com células-tronco embrionárias. Mesmo que o Supremo tenha permitido as questões éticas de fundo permanecem. Não esgoto o tema, contudo, é uma tentativa de fornecer elementos para uma leitura crítica das informações recebidas, muitas vezes tendenciosas ou demasiadamente parciais.
Células-Troncos Embrionárias:
esperança ou ilusão?
As pesquisas com células-tronco embrionárias vêm ocupando um espaço significativo nos meios de comunicação social (MCS). No entanto, o tema não é tratado com a seriedade necessária, sendo uma apresentação tendenciosa e exagerada na parcialidade. Existem, grosso modo, três grandes problemáticas tratadas superficialmente, sem preocupação com a verdade. A verdade, portanto, é a primeira desses questionamentos, porém, a busca pela verdade permeia toda reflexão e pesquisa científica e é a busca da verdade o pano de fundo de nossa reflexão. As demais são a sugerida “disputa” entre a Igreja e Ciência e a questão sobre se o embrião é ou não pessoa.
A imprensa escrita e falada, de modo geral, reduziu a questão sobre a liberação da manipulação das células-tronco embrionárias numa suposta guerra entre a Igreja Católica, ou as religiões em geral, e a Ciência. Contudo, há um desvirtuamento do real impasse sobre o tema. A Igreja não está contra a Ciência e o seu desenvolvimento. Pelo contrário, aprova o desenvolvimento das ciências e das tecnologias em favor do ser humano, portanto, da pessoa humana. É papel da biologia dizer quando começa a vida humana. A embriologia traz que a vida humana começa com a fecundação, sobre isso não há contrários. A ciência aceita esse dado biológico e a Igreja não é contrária a ele, pois é um dado aceito por todos os cientistas. Mas, o problema não é saber onde começa a vida humana e sim em saber quando se pode dizer que essa vida humana, esse ser humano, é também pessoa humana.
É bom notar que as pesquisas com Células-Tronco Embrionárias não são uma unanimidade no meio científico como os grandes MCS costumam divulgar. Por exemplo, a “Carta de 57 cientistas ao senador John Kerry” (Los Angeles Times, 27/10/2004) diz: “baseado nas evidências disponíveis, ninguém pode predizer com certeza se elas (células-tronco embrionárias humanas), em alguma época, produzirão benefícios clínicos e, muito menos, se produzirão benefícios que não sejam obteníveis por outros meios menos problemáticos do ponto de vista ético. (...) Porque políticos, interesses biotecnológicos e mesmo alguns cientistas exageraram publicamente a ‘promessa’ das células-tronco embrionárias, as percepções públicas desse enfoque tornaram-se tortuosas e irrealistas.” Também uma nova perspectiva analisada pela Giovana Girardi sobre a “Reprogramação celular pode evitar o debate ético” (O Estado de S. Paulo, 7/06/2007): “Recentemente foram obtidos resultados que permitiriam que as células-tronco adultas se comportassem como células-tronco embrionárias, ganhando a capacidade da totipotência (reprogramação celular)”(Cf. Texto-Base da CF2008, n. 103-104).
Um exemplo claro são as pesquisas com Células-Tronco Embrionárias de animais. Em 50% dos casos ocorreram deformações após implantadas como tumores e cânceres. As pesquisas com animais sequer atingiram resultados satisfatórios e estamos partindo para a pesquisa com embriões humanos! O ser humano não pode ser tratado como se fosse uma coisa qualquer! A Igreja não é contra as pesquisas científicas. No entanto, assim como outros cientistas e instituições a Igreja não apóia a manipulação genética de seres humanos (pessoas humanas) sendo que a própria ciência possuí outros recursos para alcançar os mesmos objetivos de maneira ética e moralmente aceitáveis. Podemos transformar um ser humano em objeto? Acaso, somos coisas ou somos pessoas?
A grande problemática está em determinar em que momento esse embrião passa a ser chamado de pessoa. É tarefa da Filosofia dizer quando um ser humano é pessoa. A teologia deve refletir sobre essa questão à luz da fé em cooperação com as demais ciências e estas para com a teologia em busca da verdade e do bem da pessoa humana.
Este é um ponto chave: quando o ser humano passa a ser pessoa? O embrião passa a ser pessoa ou ele é pessoa? Existe a possibilidade de alguém ser mais pessoa e outra ser menos pessoa? Perguntar-se se o embrião humano é ou não pessoa significa colocar-se diante de outra pergunta: “que é pessoa?”; “quem é pessoa?”; “quando inicia o ser pessoa?” Sobre essa problemática iremos dissertar no próximo artigo.

Nenhum comentário: