segunda-feira, 20 de outubro de 2008

BENTO XVI À ASSEMBLÉIA SINODAL: FALÊNCIA DOS GRANDES BANCOS DEMONSTRA PRECARIEDADE DO DINHEIRO

Cidade do Vaticano, 06 out (RV) - Na abertura dos trabalhos da XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema "A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja", iniciada na manhã desta segunda-feira, no Vaticano, Bento XVI sublinhou que a Palavra de Deus é a "rocha" sobre a qual devemos fundar a nossa vida. "A falência dos grandes bancos _ ressaltou _ demonstra a precariedade do dinheiro e da segurança humana." Somente a Palavra de Deus dá à vida humana aquela "solidez" que não se pode encontrar em nenhum outro âmbito, seja a carreira seja o dinheiro, como o demonstra a atual crise financeira mundial. Esse foi um dos pensamentos centrais da meditação com que Bento XVI inaugurou os trabalhos da assembléia sinodal, esta manhã. Ser realista, para um fiel, significa inverter o sentido que, normalmente, se dá a essa palavra. Significa optar por basear a própria existência na Palavra de Deus _ fortalecido pela segurança que vem do Espírito Santo e, por isso mesmo, "estável como o céu e até mesmo mais do que o céu" _ ou então optar pelas "seguranças" temporais, destinadas, mais cedo ou mais tarde, a ruir como a areia nos alicerces da casa evocada por Jesus, no seu célebre Discurso da Montanha. O salmo 118 deu ao papa a base para esta sua reflexão que inaugurou os trabalhos sinodais. Falando sobre a "rocha" dos ensinamentos da Bíblia e do seu efêmero contrário, o pontífice explicou o seu sentido, confrontando-o com um dos cenários da atualidade internacional. "Sobre a areia constrói aquele que constrói apenas sobre as coisas visíveis e tangíveis, sobre o sucesso, a carreira e o dinheiro. Aparentemente _ ponderou o papa _essas são as verdadeiras realidades, mas estamos vendo agora, com a falência dos grandes bancos, que esse dinheiro desaparece, que se transforma em nada. Assim como todas as realidades que parecem ser a verdadeira realidade com a qual contamos, são apenas realidades de segunda ordem. Quem constrói a própria vida sobre essas realidades _ o que é material, o sucesso e tudo aquilo que é tangível _ constrói sobre a areia." Acerca da Palavra de Deus, ao invés, o Santo Padre asseverou que ela "é a verdadeira realidade sobre a qual basear a própria vida... Recordemo-nos da Palavra de Jesus, que continua essa palavra do Salmo: "O céu e a terra passarão, mas as minhas Palavras não passarão." Humanamente falando, a palavra, a nossa palavra humana é quase um nada, um hálito que, apenas pronunciado, desaparece: parece ser nada. Mas mesmo assim, as palavras humanas têm uma força incrível: são elas que criam a história. E ainda mais a Palavra de Deus, que é fundamento de tudo: é a verdadeira realidade." "Devemos mudar o nosso conceito de realismo" _ insistiu Bento XVI. Para sermos realistas _ acrescentou _ devemos "mudar a nossa idéia" de que a matéria e as coisas sólidas, passíveis de serem tocadas, "representem a realidade mais sólida e mais segura". "Realista _ observou o pontífice _ é quem reconhece na Palavra de Deus o fundamento de tudo. Realista é quem constrói a própria vida sobre esse alicerce que permanece inalterável." Em seguida, comentando os demais versículos do Salmo, o papa falou também do "risco" que o homem _ como ser finito e limitado _ não consiga encontrar nas palavras, "a" Palavra de Deus. "Este é um grande perigo que corremos _ advertiu Bento XVI _ até mesmo na nossa leitura das Sagradas Escrituras: que pensemos que se trate apenas de uma história do passado e não descubramos o presente no passado; não entremos no movimento interior da Palavra que, nas palavras humanas esconde e descortina as Palavras divinas. Por isso, devemos estar em busca da Palavra. Mesmo a exegese, a verdadeira leitura da Sagrada Escritura, não é, absolutamente, um fenômeno literário, a leitura de um texto, mas é mover-se em direção da Palavra de Deus." Trata-se _ concluiu Bento XVI _ de uma espécie de "escada" para subir das palavras humanas è Palavra de Deus, e para descer nas suas profundidades. Também a história da salvação _ observou _ "não é um pequeno incidente que se inscreve num pobre planeta, na imensidade do universo". "Não é uma realidade mínima que, por acaso, aconteceu num planeta perdido, mas sim o móvel, o motivo de tudo, e tudo foi criado para que se realize a história do encontro entre Deus e a sua criatura." A Igreja, com o seu apostolado, trabalha incessantemente, para que esse encontra aconteça em todos os tempos. Nesse sentido, o Santo Padre arrematou: "O anúncio do Evangelho e a missão não são uma espécie de colonialismo eclesial, no sentido que se quer inserir outros no nosso grupo. Isso não! Mas é um sair dos limites das culturas singularmente consideradas, para entrar na universalidade que interliga todos, que une todos, que nos torna todos irmãos. Rezemos para que o Senhor nos ajude a entrar realmente na imensidão da sua Palavra e, assim, possamos abrir um horizonte universal à humanidade." Como disse Bento XVI, os cristãos correm o risco de não saberem perceber, entre os rumores e as palavras do mundo, o som da Palavra de Deus. Mas como evitar que isso possa acontecer? Algumas sugestões práticas do Cardeal Albert Vanhoye... Cardeal Albert Vanhoye:- "A Palavra de Deus é realmente essencial, porém, às vezes, não se tem contato suficiente com ela. Então, eu diria que seria ótimo que os cristãos mantivessem um contato pessoal com as Sagradas Escrituras; que muitos cristãos começassem a meditar um pouco, todos os dias, por dez minutos por exemplo, sobre uma passagem das Sagradas Escrituras, buscando compreender o que significa, o que sugere para a sua própria vida. Por outro lado, é muito importante também que os pregadores sejam bons conhecedores da Bíblia e possam, assim, introduzir os cristãos ao conhecimento mais vivo e mais completo da Bíblia." (AF)

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