Entrevista: Padre Woldinei Júnior de Souza, SDB

Ontem celebramos em comunhão com toda a Igreja o encerramento do Ano Sacerdotal. No entanto, se pode dizer que este importante momento em que muitos desafios surgiram, foi um momento de Kairós, um tempo de graça e reflexão sobre o dom da vida presbiteral. Por isso, nada melhor do que entrevistarmos um jovem Padre para que ele nos diga um pouco sobre a sua vocação.

O entrevistado de hoje é o P. Woldinei Júnior de Souza, Salesiano de Dom Bosco Vigário Paróquial da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora na cidade de Ponta Grossa, Paraná.

BLOG DO BELOTTO: Qual foi o objetivo do Sumo Pontífice ao instituir o Ano Sacerdotal?

P. Woldinei: Quis o Santo Padre Bento XVI aproveitar o ensejo da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus celebrada em 19 de junho de 2009, concomitante à comemoração dos 150 anos do dies natalis ("dia do nascimento para o céu") de São João Maria Vianney (mais conhecido como o "Santo Cura d'Ars") para abrir um período de oração e reflexão sobre a pessoa e a missão do levita do Novo Testamento, daí a instituição do "Ano Sacerdotal" que se concluiria em 11 de junho de 2010 na mesma solenidade. Nas pregações e escritos do Cura d'Ars foi encontrada uma significativa frase: "Le Sacerdoce, c'est l'amour du Coer de Jésus", traduzindo do francês, "O Sacerdócio é o amor do Coração de Jesus"; desse modo une-se perfeitamente as duas comemorações eclesiais. Sabe-se pela hagiografia do Cura d'Ars que foi um zeloso sacerdote e piedoso pastor de almas; visitava assiduamente os enfermos e atendia por horas seguidas os penitentes que o procuravam para o sacramento da Reconciliação; as celebrações eucarísticas pelo santo presididas aconteciam como que numa atmosfera sobrenatural e as suas pregações eram profundas e tocavam os corações dos ouvintes, movendo-os à conversão radical de vida. Muitas especulações levavam a crer que o Cura d'Ars ao final do Ano Sacerdotal seria proclamado pelo Romano Pontífice como o "Padroeiro dos Sacerdotes", porém, não o fez por entender que outros "santos sacerdotes" também exerceram seu ministério, mesmo sem nunca terem sido "párocos", podemos aqui citar alguns entre eles: São Camilo de Lellis que se dedicou aos enfermos; São João Batista de La Salle, São Marcelino Champagnat e São João Bosco à educação; São Leonardo Murialdo à promoção dos jovens operários; São João Calábria e São Luís Orione aos pobres; o Bem-Aventurado Tiago Alberione à comunicação... por isso, o Cura d'Ars foi assim o grande inspirador para o Ano Sacerdotal, e obviamente, o será sempre para todos os sacerdotes, no entanto, o Papa preservou-lhe o título outrora recebido de "Padroeiro dos Párocos".

BLOG DO BELOTTO: Conte-nos um pouco sobre o senhor, como nasceu a sua vocação e o seu processo formativo para a vida sacerdotal?

P. Woldinei: Nasci numa família católica e piedosa, graças a Deus. Sou o caçula de três irmãos. Sempre estive envolvido com a vida da comunidade eclesial, desde o berço, posso assim dizer. Meus amados e queridos pais me transmitiram os princípios e os fundamentos da fé, ensinaram-me a rezar e a viver como um bom cristão e, posso afirmar, com alegria, que dos joelhos de minha mãe fiz o meu primeiro oratório. Muito cedo, senti no coração o desejo de ser padre, mas, como todo adolescente, as minhas aspirações variavam muito; finalmente, em meados de 1995, quando me preparava para receber o sacramento da Crisma fui preparado por duas exemplares catequistas, a Ir. Lisiane Saldanha de Oliveira, FMA (Filha de Maria Auxiliadora, atualmente, vive como uma boa cristã, esposa e mãe de família); e a jovem aspirante salesiana, Denize Salvador (hoje, religiosa FMA). E por ambas fui incentivado a participar de encontros vocacionais com os "Salesianos de dom Bosco" (SDB), embora, já tivesse participado também com os "Missionários de São Carlos - Scalabrinianos" (CS). Fiz um encontro de quinze dias em janeiro de 1996, no Aspirantado e Colégio Salesiano São Paulo de Ascurra (SC), mas precisava discernir mais sobre a vontade de Deus na minha vida e solicitei um acompanhamento vocacional durante todo aquele ano e ao mesmo tempo, na minha terra natal Campos Novos (SC), cursava o primeiro ano do Ensino Médio e era catequista na paróquia de minha cidade. Já ciente do que desejava para minha vida, ingressei no Aspirantado e Colégio Salesiano São Paulo da já mencionada Ascurra no ano de 1997, ali concluí a fase formativa como aspirante salesiano e também os segundo e terceiro anos do Ensino Médio. Em 1999, iniciei o Pré-Noviciado na Comunidade Salesiana São João Bosco de Viamão (RS) e juntamente, o primeiro ano da faculdade de Filosofia na extinta FAFIMC (Faculdade de Filosofia N. Sra. da Imaculada Conceição, atualmente, Campus Viamão da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS). No ano 2000, tornei-me Noviço sob a orientação do P. Antonio Emidio Vilar, SDB (hoje, Dom Vilar, bispo de Cáceres, MT) e completei essa fase da formação no Noviciado Salesiano Sagrado Coração de Jesus em São Carlos (SP) e emiti a Profissão Religiosa dos Votos de Obediência, Pobreza e Castidade na Sociedade de São Francisco de Sales (mais conhecida por "Congregação Salesiana") diante do P. Nivaldo Luiz Pessinatti, SDB (na época, Inspetor/Provincial de São Paulo - SP). Em seguida, já como religioso SDB, retornei a Viamão para experienciar a fase do Pós-Noviciado e também concluir a faculdade de Filosofia (2001 e 2002), graduando-me como professor obtendo Licenciatura Plena em Filosofia e Habilitação em História e Psicologia já pela PUCRS. Durante os anos seguintes (2003 e 2004) fiz um estágio pastoral, que chamamos de Tirocínio, no Instituto Salesiano de Assistência Social (ISAS) de Curitiba (PR). Após essa fase formativa, fui a São Paulo (SP) dar continuidade à preparação ao sacerdócio na Comunidade Salesiana Santo Tomás de Aquino e cursei a faculdade de Teologia por quatro anos (2005-2008) no Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), obtendo o Bacharelado em Sagrada Teologia. Nos anos de 2005 e 2006, respectivamente, recebi os ministérios instituídos do Leitorado e do Acolitado. Emiti a Profissão Perpétua na Congregação Salesiana, diante do P. José Valmor Cesar Teixeira, SDB (na época, Inspetor/Provincial do Sul do Brasil e hoje, Dom Cesar, bispo de Bom Jesus da Lapa, BA) no dia 10 de dezembro de 2006 na Igreja Matriz da Pároquia São Cristóvão de Curitiba. Fui ordenado "diácono" pela imposição das mãos de Dom Fernando Legal, SDB (bispo emérito de São Miguel Paulista / São Paulo - SP) no dia 09 de dezembro de 2007 na Igreja Matriz da Paróquia São João Bosco (Alto da Lapa / São Paulo - SP). Fui laureado em Teologia no dia 30 de novembro de 2008 e transferido para a Comunidade Salesiana São José da Paróquia N. Sra. Auxiliadora de Ponta Grossa (PR) para continuar exercendo o ministério diaconal. E finalmente, fui ordenado sacerdote pela imposição das mãos de Dom José Jovêncio Balestieri, SDB (bispo emérito de Rio do Sul - SC) no dia 20 de dezembro de 2009 no Santuário do Contestado N. Sra. da Conceição Aparecida de Campos Novos. Nesse ano de 2010, estou exercendo o cargo de vigário paroquial na mencionada paróquia de Ponta Grossa.

BLOG DO BELOTTO: Como foi ser ordenado presbítero durante o Ano Sacerdotal?

P. Woldinei: Fiz a experiência do kairós, ou seja, o tempo da graça de Deus em minha vida. Deveria ter sido ordenado padre um ano antes, porém, quis o Senhor que eu sentisse o peso da cruz e a solidão do calvário num momento de provação pelo qual fui obrigado a passar pela ação maquiavélica de certas pessoas inescrupulosas e maldosas que maculam o seio de nossa Igreja e também de nossa Congregação, mas, depois deste tempo de maturação, compreendi a grandiosidade do amor de Deus, permitir-me participar do único e eterno sacerdócio de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, justamente no Ano Sacerdotal. É indescritível a alegria que sinto no coração por ser sacerdote participante do sacérdocio do Cristo no aconchego de seu Sagrado Coração.

BLOG DO BELOTTO: Qual a importância da família para suscitar santas vocações para a Igreja, particularmente para a vida sacerdotal?

P. Woldinei: Acredito que seja o testemunho de vida familiar cristã, onde se viva, cotidianamente, o amor, o respeito, o perdão e a fé católica. É na família que nascem todas as formas de Vocação, nela nascem os futuros pais e mães de famílias, nela nascem os futuros leigos e leigas engajados, nela nascem os futuros consagrados e consagradas a Deus, igualmente os futuros missionários e missionárias, e, é, também nela, que nascem os futuros sacerdotes da Igreja.

BLOG DO BELOTTO: A comunidade eclesial pode contribuir de algum modo no trabalho Vocacional?

P. Woldinei: Sim, aliás, deve! Devemos ser uma Igreja que, ininterruptamente, pede a santificação e o aumento das Vocações, uma vez que foi o próprio Cristo que disse: "Rogate ergo Dominum messis, ut mittat operarios in messem suam" (Lucam 10, 2b), traduzindo do latim, "Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe" (Lucas 10, 2b). É claro, que a oração pelas vocações precisa brotar espontaneamente do coração dos católicos todos os dias, mas também é necessário promover atividades de cunho formativo, oferecendo aos adolescentes e jovens, momentos de discernimento, de reflexão e de acompanhamento vocacional, bem como, ajudar materialmente o Serviço de Animação Vocacional (SAV) de nossas paróquias. Em nossos dias, fala-se muito em cultura vocacional e acredito, que de fato, só por esse caminho de sensibilização vocacional de nossos católicos é que poderemos colaborar para o surgimentos de mais sacerdotes e religiosos (as) para a Igreja de Cristo.