João Bosco era um menino corajoso e
intrépido. Certa ocasião em casa dos avós maternos ouviu falar de espíritos. De
vez em quando ouviam-se, naquela casa, ruídos mais ou menos duradouros, mas
sempre estranhos e amedrontadores, que vinham do sótão.
João ria-se de tais loucuras e
esforçava-se para explicar que o barulho provinha certamente de causas
naturais; mas ninguém acreditava, pelo contrário zombavam dele.
Eis porém que certa noite, no melhor do
serão[1], ouve-se um barulho no sótão,
como se uma cesta de madeira tivesse virado; depois do ruído surdo e lento que
vai de um lado para outro do quarto.
Todos estremecem... tomados de susto.
- O que será?!
- O que será?!
- Os espíritos, os espíritos!....
E fogem todos; Joãozinho grita cheio de
coragem:
- Quero ver o que há... tragam uma lanterna.
Alguns param, pegam lanternas e o seguem
pela escada de madeira que conduz ao sótão.
João empurra a porta, entra, e suspendendo
a luz inspeciona o quarto. Não há ninguém ali: tudo é silêncio. Pouco a pouco os
presentes aproximam-se: alguns entram, mas logo dão um grito e fogem
precipitadamente. Um balaio que estava no conto, põe-se a andar sozinho e
avança lentamente. Ao som dos gritos estaca para pôr-se em movimento logo após.
Chega até aos pés de Joãozinho que, em lugar de fugir, reanima aos outros e dá
alguns passos para dentro do aposento. Pousando a lanterna sobre uma cadeira
velha, ele se abaixa para agarrar o cesto.
- Deixe! deixe! .... gritavam os outros em
coro.
Mas ele nãos presta atenção e, corajosamente, ergue o balaio.
Foi uma gargalhada gostosa!... Debaixo do
cesto havia uma galinha que a patroa pusera lá em cima para chocar e de cuja
existência ninguém se lembrava.
No balaio, pendurado à parede, havia
alguns grãos de trigo e a galinha, esfomeada tentara alcança-los; mas o cesto,
caindo por cima dela, a tinha aprisionado e a pobre, muito assustada, andava de
um lado para outro sem conseguir libertar-se.
As conversas – cujo assunto preferido eram
espíritos, magias, feitiçarias e bruxas – o silêncio e a escuridão da noite, o
teto de tábuas e sobretudo o medo tinham tornado os ruídos formidáveis aos
ouvidos dos outros. O incrédulo Joãozinho foi o único que lhes deu o justo
valor, merecendo os aplausos de todos que depois riram com ele do medo que
tinham tido.
***
FONTE: CHIAVARINO, SORRISOS de DOM BOSCO. VI Edição, Ed. Paulinas, São Paulo, 1959, o "sorriso" de hoje encontra-se à páginas 13 a 14.
[1] Serão:
s.m. (1) O trabalho
que se realiza fora do horário do expediente; ofício noturno que se pode
estender até a manhã seguinte; seroada. (2) O tempo em que acontece esse
trabalho e o valor recebido pelo mesmo. (3) Período de tempo situado depois do
jantar até o horário de dormir. (4) Conjunto de pessoas que se reúnem para
fazer atividades recreativas como: ouvir músicas, recitar poesias, conversar
etc; sarau. (Etm. do latim: seranum/serum.i)
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